- Agora mais que nunca. Meu pai é falecido, e não ignoras que sou eu o seu único herdeiro. Malvina por motivos, que sem dúvida terás adivinhado, acaba de abandonar-me, e retirou-se para a casa de seu pai. Sou eu, pois, que hoje unicamente governo nesta casa, e disponho do teu destino. Mas também, Isaura, de tua vontade unicamente depende a tua felicidade ou a tua perdição.
- De minha vontade!... oh! não, senhor; minha sorte depende unicamente da vontade de meu senhor.
- E eu bem desejo - replicou Leôncio com a mais terna inflexão de voz, - com todas as forças de minha alma, tornar-te a mais feliz das criaturas; mas como, se me recusas obstinadamente a felicidade, que tu, só tu me poderias dar?...
- Eu, senhor?! oh! por quem é, deixe a humilde escrava em seu lugar; lembre-se da senhora D. Malvina, que é tão formosa, tão boa, e que tanto lhe quer bem. É em nome dela que lhe peço, meu senhor; deixe de abaixar seus olhos para uma pobre cativa, que em tudo está pronta para lhe obedecer, menos nisso, que o senhor exige...
- Escuta, Isaura; és muito criança, e não sabes dar às coisas o devido peso. Um dia, e talvez já tarde, te arrependerás de ter rejeitado o meu amor.,
- Nunca! - exclamou Isaura. - Eu cometeria uma traição infame para com minha senhora, se desse ouvidos às palavras amorosas de meu senhor.
- Escrúpulos de criança!.., escuta ainda, Isaura. Minha mãe vendo a tua linda figura e a viveza de teu espírito, - talvez por não ter filha alguma, - desvelou-se em dar-te uma educação, como teria dado a uma filha querida. Ela amava-te extremosamente, e se não deu-te a liberdade foi com o receio de perder-te; foi para conservar-te sempre junto de si.