A Escrava Isaura - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 85 / 185

É assim que muitas vezes o positivismo e o senso prático do Dr. Geraldo serviam de corretivo às utopias e exaltações de Álvaro, e vice-versa.

Da boca do próprio Álvaro já ouvimos por que acaso veio ele conhecer D. Elvira, e como conseguiu levá-la ao sarau, a que ainda continuamos a assistir.

- Meu pai, - dizia uma jovem senhora a um homem respeitável, em cujo braço se arrimava, entrando na ante-sala, onde ainda nos conservamos de observação. - Meu pai, fiquemos por aqui um pouco nesta sala, enquanto está deserta. Ah! meu Deus! - continuou ela com voz abafada, depois de se terem sentado junto um do outro; - que vim eu aqui fazer, eu pobre escrava, no meio dos saraus dos ricos e dos fidalgos!... este luxo, estas luzes, estas homenagens, que me rodeiam, me perturbam os sentidos e causam-me vertigem. É um crime que cometo, envolvendo-me no meio de tão luzida sociedade; é uma traição, meu pai; eu o conheço, e sinto remorsos... Se estas nobres senhoras adivinhassem que ao lado delas diverte-se e dança uma miserável escrava fugida a seus senhores!... Escrava! - exclamou levantando-se - escrava!... afigura-se-me que todos estão lendo, gravada em letras negras em minha fronte, esta sinistra palavra!... fujamos daqui, meu pai, fujamos! esta sociedade parece estar escarnecendo de mim; este ar me sufoca... fujamos.

Falando assim a moça, pálida e ofegante, lançava a cada frase olhares inquietos em roda de si, e empuxava o braço de seu pai, repetindo sempre com ansiosa sofreguidão:

- Vamo-nos, meu pai; fujamos daqui.

- Sossega teu coração, minha filha, - respondeu o velho procurando acalmá-la. - Aqui ninguém absolutamente pode suspeitar quem tu és. Como poderão desconfiar que és uma escrava, se de todas essas lindas e nobres senhoras nem pela formosura, nem pela graça e prendas do espirito nenhuma pode levar-te a palma?





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