- Tanto pior, meu pai; sou alvo de todas as atenções, e esses olhares curiosos, que de todos os cantos se dirigem sobre mim, fazem-me a cada instante estremecer; desejaria até que a terra se abrisse debaixo de meus pés, e me sumisse em seu seio.
- Deixa-te dessas ideias; esse teu medo e acanhamento é que poderiam nos pôr a perder, se acaso houvesse o mais leve motivo de receio. Ostenta com desembaraço todos os seus encantos e habilidades, dança, canta, conversa, mostra-te alegre e satisfeita, que longe de te suporem uma escrava, são capazes de pensar que és uma princesa. Toma ânimo, minha filha, ao menos por hoje; esta também, assim como é a primeira, será a derradeira vez que passaremos por este constrangimento; não nos é possível ficar por mais tempo nesta terra, onde começamos a despertar suspeitas.
- É verdade, meu pai!... que fatalidade!... - respondeu a moça com uma triste oscilação de cabeça. - Assim pois estamos condenados a vagar de país em país, sequestrados da sociedade, vivendo no mistério, e estremecendo a todo instante, como se o céu nos tivesse marcado com um ferrete de maldição!... ah! esta partida há de me doer bem no coração!... não sei que encanto me prende a este lugar. Entretanto, terei de dizer adeus eterno a... esta terra, onde gozei alguns dias de prazer e tranquilidade! Ah! meu Deus!... quem sabe se não teria sido melhor morrer entre os tormentos da escravidão!...
Neste momento entrava Álvaro na ante-sala percorrendo-a com os olhos, como quem procurava alguém.