A Escrava Isaura - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 99 / 185

Em breve estaremos longe, e se algum dia souberem quem tu eras, que nos importa? nunca mais nos verão o rosto, nem ouvirão nossos nomes. Tens a consciência escrupulosa em demasia. Se ignoram quem tu és, a tua companhia em nada os pode infamar. Com isso não fazes mal a ninguém; é uma medida de salvação, que todos te perdoariam.

- Meu pai parece que tem razão; mas não sei por que, repugna-me absolutamente ao coração dar esse passo.

- Mas é preciso dá-lo, minha filha, se não queres para nós ambos a desgraça e a morte. Se não formos a esse baile, e desaparecermos de um dia para outro, como nos é forçoso, então as suspeitas que começamos a despertar tomarão muito maior vulto, e a polícia pôr-se-á à nossa pista, e nos perseguirá por toda parte. É um sacrifício na verdade, mas não será ele muito mais suave do que as perseguições da polícia, a prisão, as torturas e a morte, que é o que podes esperar em casa de teu senhor?...

Isaura não respondeu; seu espírito agitava-se entre as mais pungentes e amargas reflexões.

As palavras de seu pai a tinham abismado em glacial e profundo desalento. Aturdida por tantos golpes, sua alma debatia-se em um mar de dúvidas e perplexidades, como frágil barca em meio de um oceano irritado, sacudida aos boléus por vagalhões desencontrados.

O grito de sua consciência escrupulosa e delicada, a lisura e sinceridade de seu coração, que não podia acomodar-se com o embuste e a mentira, e uma espécie de vago pressentimento que lhe pesava sobre o espírito, a desviavam daquele baile, e por momentos pareciam fixar definitivamente a sua resolução; e firme neste propósito dizia consigo mesma: - não, não irei.

Por outro lado as considerações de seu pai, que pareciam tão razoáveis, bem como o desejo de ver Álvaro ainda uma vez, de gozar por algumas horas a sua presença, faziam-lhe de novo flutuar o espírito no mar das irresoluções.





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