A lembrança de que em breve, talvez no dia seguinte, tinha de deixar aquela terra e separar-se de Álvaro, sem esperança alguma de jamais tornar a vê-lo, sem poder dizer-lhe um adeus, sem que ele pudesse saber quem ela era, nem para onde ia, dilacerava-lhe o coração. Partir sem ter um ente a quem apertar nos braços na hora da despedida, nem ter um seio onde verter as lágrimas da mais pungente saudade; partir para levar uma vida errante e fugitiva, sem esperança nem consolação alguma, através de mil trabalhos e perigos, para terminá-la talvez entre os tormentos da mais atroz escravidão, oh!... isto era pavoroso! - e, entretanto, era esse o único futuro que a pobre Isaura tinha diante dos olhos. Mas não; tinha ainda diante de si uma noite inteira de prazer e de ventura, uma noite esplêndida de baile e regozijo de seu amante, respirando o mesmo ar, inebriando-se de sua voz, bebendo o seu hálito, recolhendo dentro d'alma seus olhares apaixonados, sentindo na sua a pressão daquela mão adorada, contando as pulsações daquele coração, que só por ela palpitava. Oh! uma noite assim valia bem uma eternidade, viessem depois embora as angústias e perigos, a escravidão e a morte!
Cândida e modesta como era, nem por isso Isaura deixava de ter consciência do quanto valia. Vendo-se o objeto do amor de um jovem de espírito elevado, e dotado de tão nobres e brilhantes qualidades como Álvaro, ainda mais se confirmou na ideia que de si mesma fazia.
Com sua natural perspicácia e penetração, bem depressa convenceu-se de que o afeto que o mancebo lhe consagrava não era simples e superficial homenagem rendida a seus encantos e talentos, nem tampouco passageiro capricho de mocidade, mas verdadeira paixão, sincera, enérgica e profunda.