A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 166 / 359

Comecei a recear sinceramente que me pegasse na palavra e vendesse o meu pequeno rendimento, como eu dizia, a fim de arranjar dinheiro para ir à Irlanda tentar a sorte; mas ele era demasiado honesto para o desejar ou, até, para o aceitar se eu lho oferecesse. Como se adivinhasse os meus receios, acrescentou que iria experimentar e, se visse que não se enganava, me viria buscar. Juntando o meu ao que ganhasse, poderíamos, então, viver como nos competia, mas não arriscaria um único xelim meu enquanto não experimentasse primeiro com um pequeno capital. Se, porém, verificasse que nada havia a esperar da Irlanda, reunir-se-me-ia e poríamos em prática o projecto referente à Virgínia.

Mostrava-se tão ansioso por experimentar primeiro o seu plano que não consegui dissuadi-lo. Prometeu, contudo, dar-me notícias pouco de- pois de chegar, para me informar se a sorte o favorecia e, em caso contrário, se não houvesse esperança de êxito, me dar tempo para preparar a nossa viagem, pois de todo o coração me acompanharia à América.

Não logrei arrancar-lhe mais que isso, mas levámos quase um mês a arquitectar planos e mais planos e, entretanto, tive o prazer da sua companhia, agradável como não conhecia outra igual. Aproveitou esse tempo para me contar toda a sua vida, que achei surpreendente e tão infinitamente variada que, pelas suas aventuras e acidentes, daria uma história muito mais colorida que qualquer das que já vi impressas. Mas mais adiante terei ensejo de voltar a falar dele.

Despedimo-nos, por fim, embora com a maior relutância da minha parte. A ele também o contrariou a separação, mas a necessidade impunha-a, pois, como mais tarde vim a compreender, tinha boas razões para não entrar em Londres.

Indiquei-lhe a morada para onde podia escrever-me, mas continuei a guardar o meu grande segredo, isto é, a não lhe dizer o meu verdadeiro nome, quem era ou onde poderia encontrar-me.





Os capítulos deste livro