A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 260 / 359

A singularidade da situação divertia a populaça, que aumentava constantemente e não se cansava de perguntar: «Quem é o patife? Quem é o fanqueiro?» As mais curiosas eram, sobretudo, as mulheres, que acrescentavam, quando o viam: «É aquele, é aquele!» E, de vez em quando, atiravam-lhe uma boa chapada de lama. Andámos assim um bom bocado, até que o lojista achou conveniente pedir ao guarda que chamasse uma carruagem para o proteger do povo. O guarda, eu, o fanqueiro e o caixeiro percorremos, pois, o resto do caminho de carruagem.

Quando chegámos, e depois de o guarda ter feito um relato resumido do que se passara, o juiz de paz, um velho cavalheiro morador em Blomsbury, ordenou-me que falasse e dissesse o que tinha a dizer. Antes, porém, perguntou-me o nome e, embora me desagradasse muito, não tive outro remédio senão informá-lo de que me chamava Mary Flanders e era viúva de um capitão de barco que morrera em viagem para a Virgínia. Acrescentei vários outros pormenores impossíveis de contestar, assim como que morava presentemente com tal pessoa - indiquei o nome da minha governanta -, mas que me preparava para seguir para a América, onde se encontravam os bens do meu marido, e que saíra naquele dia a fim de comprar algumas roupas para aliviar o luto. Não entrara ainda em nenhuma loja, porém, quando aquele indivíduo - apontei o caixeiro do fanqueiro - me agarrara com uma fúria tão grande que me assustara e me tinha levado, à força, para a loja do patrão. Este, embora dissesse não ser eu a pessoa em questão, não me deixara ir em paz e entregara-me a um guarda.

Contei então como o caixeiro me tratara, que não me tinham consentido que mandasse chamar pessoas amigas e que, por fim, a verdadeira ladra fora apanhada, ainda com as mercadorias furtadas, que o captor retirara das suas roupas.





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