Foi então que, decorridos alguns dias de amargo desgosto, ocorreu uma alteração apreciável nas características da perturbação mental do meu amigo. Os seus modos habituais tinham desaparecido. As suas ocupações costumeiras foram descuradas ou esquecidas. Vagueava de aposento em aposento com passo apressado, irregular e errante. A palidez do seu rosto assumira, se possível, uma tonalidade ainda mais espectral- mas a luminosidade do seu olhar desaparecera por completo. A aspereza do seu tom de voz, que antes lhe detectava ocasionalmente, já não se fazia ouvir; e um trémulo requebro, como que de terror extremo, caracterizava agora habitualmente a sua maneira de pronunciar as palavras. Ocasiões havia em que chegava a pensar que o seu espírito incessantemente agitado se debatia com qualquer opressivo segredo, para cuja revelação ele se esforçasse por ganhar coragem. Outras vezes era levado a atribuir tudo às simples fantasias inexplicáveis da loucura, visto que o surpreendia de olhar perdido no vácuo durante longas horas, numa atitude da mais profunda concentração, como se escutasse qualquer som imaginário. Não será de estranhar que tal estado me aterrorizasse, me contagiasse.