A Queda da Casa de Usher - Cap. 1: A queda da casa de Usher Pág. 6 / 23

Tapeçarias escuras cobriam as paredes. A maior parte do mobiliário era arrebicada, desconfortável, velha e em mau estado. Havia uma série de livros e de instrumentos musicais espalhados aqui e além, mas não conseguiam proporcionar qualquer vida ao conjunto. Senti que respirava uma atmosfera de desgosto. Pairava um ar de melancolia intensa, profunda e irremissível, que tudo penetrava.

À minha entrada, Usher ergueu-se do sofá em que estava completamente reclinado e saudou-me com uma calorosa vivacidade que tinha muito - pensei inicialmente - da exagerada cordialidade, do esforço constrangido de um homem do mundo ennuyé (entediado). Contudo, um olhar à sua fisionomia convenceu-me da sua completa sinceridade. Sentámo-nos e, por momentos, enquanto ele se mantinha silencioso, observei-o com uma sensação meio de pena, meio de temor. Estou certo de que nunca houve homem que sofresse tão terrível modificação, em tão curto espaço de tempo, como Roderick Usher! Não foi sem dificuldade que consegui admitir a identidade do ser lânguido que tinha perante mim com o meu companheiro de infância. No entanto, o carácter da sua fisionomia sempre fora notável. Uma tonalidade cadavérica, uns olhos grandes, líquidos e de incomparável luminosidade, uns lábios sobre o fino e muito pálidos, mas de curvatura inexcedivelmente bela, um nariz de delicado tipo hebreu, mas com uma largura de narinas invulgar em configuração similar, um queixo finamente modelado, revelado r, na sua ausência de relevo, de falta de energia moral, um cabelo mais macio e ténue que uma teia de aranha - todos estes traços, aliados a um excessivo desenvolvimento da região superior às ' têmporas, criavam no seu conjunto uma fisionomia que dificilmente se poderia esquecer.





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