A Verdade no Caso do Sr. Valdemar - Cap. 1: A verdade no caso do Sr. Valdemar Pág. 11 / 11

Valdemar, pode explicar-nos o que sente ou deseja agora? Houve um regresso repentino das manchas héticas ao rosto; a língua oscilou ou, melhor, rolou violentamente na boca (embora os maxilares e OS lábios se mantivessem rígidos) e finalmente a mesma voz hedionda que já descrevi soou:

- Por amor de Deus depressa depressa... ponha-me a dormir... ou, depressa! Acorde-me depressa… estou a dizer-lhe que estou morto.

Fiquei totalmente desorientado e, por momentos, incapaz de decidir o que fazer. Primeiro tentei readquirir o domínio do paciente; mas sem o conseguir, devido à total ausência da sua vontade, fiz marcha atrás num esforço tremendo para o acordar. Em breve me apercebi de que esta tentativa seria coroada de êxito - ou pelo menos em breve imaginei que o meu êxito seria total- e creio que todos os que se encontravam no quarto estavam preparados para ver o paciente acordar.

Para aquilo que realmente aconteceu é impossível que qualquer ser humano pudesse estar preparado.

Enquanto eu fazia rapidamente os passes hipnóticos entre as exclamações de «morto!, morto!», que literalmente rebentavam na língua e não nos lábios do paciente, o seu corpo todo, num repente - no espaço de um único minuto ou talvez menos -, encolheu-se, desfez-se, apodreceu completamente sob as minhas mãos. Na cama, perante os olhos de toda a companhia, jazia uma massa quase líquida de repugnante, de detestável podridão.

FIM





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