L-1.
À tarde voltámos todos para ver o paciente. O seu estado era precisamente o mesmo. Discutimos então a hipótese de o acordar; mas não nos foi difícil chegar à conclusão que nada de bom nem de útil daí adviria. Era evidente que até agora, a morte (ou aquilo a que vulgarmente se chama morte) fora detida pelo processo hipnótico. Parecia-nos evidente a todos que acordar o Sr. Valdemar seria apenas provocar a sua imediata, ou pelo menos rápida, dissolução.
Desde esta altura até ao fim da semana passada - um período de quase sete meses - continuámos a visitar diariamente o Sr. Valdemar, acompanhados de vez em quando por médicos e amigos. Durante todo este tempo o estado do hipnotizado permaneceu exactamente como descrevi. Os enfermeiros nunca o abandonavam.
Foi na sexta-feira passada que decidimos finalmente fazer a experiência de o acordar ou de tentar acordá-lo; e foi o (talvez) infeliz resultado desta última experiência que deu origem a tanta discussão nos círculos privados - muita da qual não posso deixar de atribuir aos sentimentos populares injustificadamente feridos.
Com o propósito de libertar o Sr. Valdemar do transe hipnótico utilizei os passes habituais. Estes, durante algum tempo, não tiveram qualquer resultado. A primeira indicação positiva foi fornecida por uma descida parcial da íris. Verificou-se, como especialmente digno de nota, que esta descida da pupila se acompanhou de um jorrar profuso de um líquido amarelado (vindo de trás das pálpebras) de um cheiro pungente e altamente nauseabundo.
Alguém sugeriu então que tentasse influenciar o braço do paciente como já fizera antes. Tentei, mas nada sucedeu. O Dr. F... manifestou-me então o seu desejo de que eu fizesse uma pergunta. Assim fiz, da seguinte maneira:
- Sr.
