Contudo, as promessas de Eleonora não foram esquecidas, pois ouvi os sons do balouçar dos turíbulos dos anjos; ondas de um perfume sagrado pairavam continuamente sobre o vale; a horas solitárias, quando o meu coração batia pesadamente, os ventos que me banhavam a fronte chegavam carregados de suaves suspiros; murmúrios indistintos enchiam frequentemente o ar da noite; e uma vez - ah, mas uma vez só! - fui acordado de uma sonolência como o torpor da morte pelo contacto de uns lábios espirituais sobre os meus.
Mas ainda assim o vazio que havia no meu coração se recusava a ser preenchido. Ansiava pelo amor que outrora o enchera transbordante. Com o tempo, o vale começou à fazer-me penar devido às recordações de Eleonora e abandonei-o para sempre, trocando-o pelas futilidades e tumultuosos triunfos do mundo.
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Encontrei-me numa cidade estranha, onde tudo poderia contribuir para apagar a recordação dos doces sonhos que durante tanto tempo albergara no Vale da Relva Multicor. A pompa e o aparato de uma corte majestosa, aliados ao louco clangor das armas e à radiosa beleza das mulheres, confundiam e inebriavam-me o espírito. Mas até então a minha alma mostrara-se fiel ao voto, e os indícios da presença de Eleonora eram-me ainda concedidos nas horas silentes da noite.