Eleonora - Cap. 1: Eleonora Pág. 6 / 8

ao morrer tranquilamente, que, devido ao que eu fizera para lhe confortar o espírito, com esse mesmo espírito velaria sobre mim depois da morte e, se tal lhe fosse permitido, se me tornaria visível nas vigílias nocturnas; mas que, se isto estivesse realmente para além do poder das almas no Paraíso, pelo menos me daria frequentes indícios da sua presença, suspirando sobre mim nos ventos matinais ou enchendo o ar que eu respirava com o perfume dos turíbulos dos anjos. E, com estas palavras nos lábios, abandonou a sua inocente vida, colocando um ponto final na primeira época da minha.

Até aqui, o meu relato foi fiel. Contudo, ao passar a barreira do trajecto do Tempo criada pela morte da minha amada, sinto que uma nuvem se forma no meu cérebro, e não confio mais na perfeita lucidez da narrativa. Mas seja-me permitido que prossiga.

Os anos arrastaram-se pesadamente uns após os outros, e continuei a residir no Vale da Relva Multicor; porém, uma segunda transformação ocorrera em todas as coisas. As flores em forma de estrela murcharam nos troncos das árvores e não mais tornaram a aparecer. As tonalidades do tapete verdejante esmoreceram; e, em lugar delas, haviam brotado, às dezenas, violetas sombrias, quais olhos, que se retorciam penosamente e estavam continuamente carregadas de orvalho. E a Vida abandonou os nossos caminhos, pois o grande flamingo não mais exibia a sua plumagem escarlate diante de nós e voara lugubremente do vale para as colinas, juntamente com todos os pássaros coloridos que o haviam acompanhado à chegada. E os peixes dourados e prateados nadaram até ao desfiladeiro do extremo inferior da nossa propriedade e nunca mais voltaram a enfeitar o doce rio. Quanto à melodia embaladora que outrora fora mais





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