A Origem da Tragédia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 10 / 164

4.

Sim, o que é o dionisíaco? Este livro contém a resposta: — é um “conhecedor” que fala, um iniciado, discípulo de seu deus. Talvez eu discorresse agora com mais precaução e menos eloquência sobre uma questão psicológica tão difícil como é a origem da tragédia entre os gregos. Questão fundamental é a relação do grego com a dor? Posto, pois, que tal fosse verdade — e Péricles (ou Tucídides) no-lo dá a entender na grande oração fúnebre, — de onde procederia o desejo contrário que surgiu, cronologicamente, antes: A ânsia do feio, a estrita e firme devoção dos antigos helenos ao pessimismo, ao mito trágico, à imagem de todo terrível, mau, enigmático, destruidor, sinistro no fundo da existência, — de onde procederia então a tragédia? Talvez do desejo, da força, da saúde superabundante, de plenitude? E que significação tem então, fisiologicamente, tal loucura, da qual nasceu tanto a arte trágica quanto a cômica, a loucura dionisíaca? O que? Não será talvez necessariamente a loucura o sintoma da degenerescência, da ruína, da cultura tardia? Há porventura — (uma pergunta para alienistas) neuróticos de saúde? da juventude do povo? — O que indica aquela síntese de deus e bode no sátiro? Por qual acontecimento pessoal, por que impulso teve o grego de representar-se o entusiasta dionisíaco e homem primitivo, como sátiro? E no que se refere à origem do coro trágico, existiam naqueles séculos, em que florescia o corpo grego e a alma grega se derramava plena de vida, exuberante, porventura entusiasmos endêmicos?





Os capítulos deste livro