A Origem da Tragédia - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 103 / 164

Quem se tornar bem claro como, depois de Sócrates, o mistagogo da Ciência, uma escola filosófica sucede à outra, assim como se sucedem as ondas, como uma universalidade nunca presumida de avidez pelo saber no campo mais vasto do mundo civilizado e como problema indicado para todo elevadamente apto, levou a Ciência a mares altos, dos quais, desde então, ela não pôde ser completamente expulsa, como com esta universalidade se conseguiu estender por todo o globo terrestre uma rede comum do pensamento, com vistas mesmo à legalidade de um sistema solar inteiro; aquele que se representa tudo isto, incluindo a espantosamente alta pirâmide do saber da época presente, este não poderá deixar de perceber em Sócrates um dos vértices e pontos de mudança do que se chama história universal. Pois se se imaginasse toda esta soma inumerável de força, que foi gasta para tal tendência mundial, não em serviço de reconhecimento, mas sim usado no sentido dos fins práticos, isto é egoístas, dos indivíduos e povos, então teria sido, provavelmente, em lutas de extinção comuns e em contínuas migrações dos povos, enfraquecido de tal maneira o desejo instintivo de viver que, com o costume de suicídio, o indivíduo sentisse talvez a última réstia de sentimento do dever, se ele, como o habitante das ilhas Fidji, estrangulasse como filho os seus pais, como amigo o seu amigo; um pessimismo prático que poderia mesmo produzir uma ética pavorosa de assassinato de povos inteiros por compaixão — o que, aliás, existe e existiu sempre onde não apareceu, para remédio e defesa contra aquele sopro destruidor, a Arte sob quaisquer formas, principalmente como religião e ciência.





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