A Origem da Tragédia - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 132 / 164

Se, porém, relacionámos, com toda razão na exemplificação aqui indicada, o desaparecimento do espírito dionisíaco com a mudança e degeneração muito visível, mas até agora inexplicável, do homem grego — que esperanças devem ressurgir em nós, quando os auspícios mais seguros nos certificam de um processo contrário, do acordar paulatino do espírito dionisíaco em nosso mundo atual? Não é possível admitir que a força divina de Héracles se enfraqueça eternamente em voluptuosa servidão a Onfale. Do fundo dionisíaco do espírito alemão elevou-se uma força, que nada tem em comum com as condições primitivas da cultura socrática, não sendo explicável nem desculpável por estas, e que, muito pelo contrário, é sentida por esta cultura, como o horrível-inexplicável , o prepotente-hostil , a música alemã, como deve ser entendida em sua poderosa marcha solar de Bach a Beethoven, de Beethoven a Wagner. O que poderá fazer o socratismo desejoso de conhecimentos, no melhor dos casos, com este demônio que se eleva de profundezas insondáveis? Nem com os ornatos e arabescos da melodia de ópera, nem com a ajuda da tábua aritmética da fuga e da dialética de contraponto se consegue achar a fórmula em cuja luz potente se possa submeter e forçar a falar um tal demônio. Que espetáculo quando nossos estetas, com a rede de uma “beleza” a eles pertencente, procuram bater e pegar o gênio da música, que diante deles se move em vida inconcebível, sob movimentos que não desejam ser julgados nem segundo a beleza eterna, nem segundo o excelso. É necessário examinar de perto tais favorecedores da música quando incansavelmente exclamam beleza! beleza! para ver se eles então se portam como os filhos prediletos da natureza, criados e formados no seio da beleza,





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