Capítulo 22: Capítulo 22
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De que seivas se alimenta este ser parasitário de ópera, senão da arte verdadeira? Não seria de se supor que, sob suas seduções idílicas, sob suas artes adulatórias alexandrinas, degenere o problema mais elevado e verdadeiramente sério da arte — remir a vista do olhar ao horror da noite e salvar o sujeito pelo bálsamo sanativo da aparência das agitações e excitações da vontade — a uma tendência do divertimento, vazia e recreativa? O que será feito das verdades sempiternas do dionisíaco e do apolínico, como as que apresentei na essência do stilo rappresentativo, numa tal mistura de estilos? Onde se considera a música como servo, o texto como senhor, onde se compara a música com o corpo, o texto com a alma? Onde o fim mais elevado pode, talvez, ser representado por uma pintura musical perifrástica, assim como antigamente no ditirambo ático? Onde se tira à música a sua verdadeira dignidade, de ser o espelho universal dionisíaco, de maneira a só lhe restar um caminho, imitar a essência da forma da aparência, como escrava da aparência, e incitar com o jogo das linhas e proporções um deleite externo. A uma consideração severa verifica-se a coincidência desta influência desastrosa da ópera sobre a música com toda a evolução moderna; o otimismo escondido na gênese da ópera e na essência da cultura por ela representada, conseguiu em rapidez alarmante despir a música de suas considerações universais dionisíacas e marcá-la com um caráter formal e alegre; mudança com que se pode, talvez, comparar a metamorfose do homem esquiléico ao homem da alegria alexandrina.
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Páginas: 164
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