A Origem da Tragédia - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 150 / 164

Podemos agora, depois de nossas magníficas experiências, formular essa pergunta tão profunda, depois de termos experimentado, precisamente na tragédia musical, como o mais elevado patético pode, na realidade, ser somente um jogo estético, razão pela qual podemos crer que somente agora se poderá descrever o fenômeno primitivo do trágico com alguns resultados. Quem ainda agora fala somente daqueles efeitos representativos, de esfera extra-estética, e quem não se sentir elevado sobre o processo patológico-moral, que desespere de sua natureza estética, em troca de que lhe recomendamos a interpretação de Shakespeare à maneira de Gervinus e o diligente procurar da “justiça poética”, como compensação inocente.

Assim, com o renascimento da tragédia, renasceu também o ouvinte estético, no lugar do qual costumava estar sentado, nas salas de teatro, um estranho quid pro quo, com exigências semi-morais e semi-eruditas, o “crítico”. Em sua esfera anterior tudo era artificial e somente revestido com uma aparência de vida. O artista que representava, de fato, já não sabia mais o que fazer com tal ouvinte, que criticamente se comportava; e espreitava por isso, juntamente com o dramaturgo ou compositor de ópera que o inspirava, os últimos restos da vida deste ser exigente e vazio, incapacitado de usufruir o que quer que fosse. De tais “críticos”, porém, se compunha o público até o presente; o acadêmico, o estudante e mesmo o mais ingênuo ser feminino já estava preparado, contra sua vontade, por meio da educação que recebia e dos jornais que lia, para perceção idêntica de uma obra de arte. As naturezas mais nobres entre os artistas contavam num público tal com a excitação de forças morais-religiosas, e o chamado da “ordem moral do mundo” se apresentava como ajudante, quando uma potente magia artística deveria entusiasmar o verdadeiro ouvinte.





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