Odisseia - Cap. 11: Os Rebanhos do Sol Pág. 88 / 129

Esquartejaram-nos, assaram-nos e comeram-nos! Volto da minha breve excursão e sinto no ar o fumo do cozinhado sacrílego. Estremeço, tremo de pavor e cólera. Que horríveis castigos nos destinaria o Sol ao saber que tinham sido mortos aqueles belos e fortes animais, que, tanto gostava de acarinhar e envolver na sua claridade benfazeja e que a ninguém faziam mal?

Nem me atrevia a pensar nisso...

Sete dias se banquetearam os meus bravos camaradas. No fim dos sete dias a tempestade amainou. Partimos. Mas, assim que perdemos de vista a ilha famosa, a tempestade recomeçou mais brava do que nunca. O navio despedaçou-se. Todos os meus companheiros desapareceram nas ondas. Escapei não sei como, agarrado aos destroços da embarcação, impelido de novo para os abismos ameaçadores de Sila e Caribdes. Caribdes ia-me engolindo ao engolir o mar. Agarrei-me a uma figueira brava, bem presa ao solo negro da rocha, e que estendia os ramos em todas as direcções, sombreando as ondas. Ali me aguentei, o corpo suspenso sobre a voragem, e as mãos a escorrer sangue! Situação angustiosa... Enfim, vi passar em baixo, levado no fluxo e refluxo das vagas, o mastro do meu navio. Deixei-me cair. Pude abraçar-me a ele. Nove dias voguei ao acaso, sem comer nem dormir,





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