A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 100 / 205

Quem quer somente plumas bem colocadas, gazes leves, lindas toilettes e mulheres delicadas; quem se satisfaz com o lado superficial das coisas encontra aqui o que deseja, contentando-se com essas frases insignificantes, essas encantadoras momices, e não exigindo sentimento nos corações. Quanto a mim, tenho horror a essas intrigas banais que terminam em casamentos, subprefeituras, grandes somas em dinheiro ou, tratando-se de amor, em secretas combinações, de tal modo se envergonham de ostentar uma paixão. Não vejo um só desses rostos eloqüentes que anuncie uma alma entregue a uma idéia como a um remorso. Aqui, a saudade ou pesar ocultam-se vergonhosamente sob gracejos. Não vejo uma dessas mulheres com as quais me agradaria rivalizar, e que nos arrastam para o abismo. Onde encontrar energia em Paris? Um punhal é um objeto curioso que se suspende num prego dourado, que se mete numa linda bainha. Mulheres, idéias, sentimentos, tudo se parece. Já não existem paixões, porque as individualidades desapareceram. As classes, os espíritos, as fortunas, foram nivelados; e todos vestiram a casaca preta como sinal de luto pela França morta. Não amamos os nossos iguais. Entre dois amantes, há diferenças por pagar, distâncias por preencher. Esse encanto do amor eclipsou-se em 1789! Nosso tédio, nossos costumes insípidos são o resultado do sistema político. Ao menos, na Itália, tudo é diferente. As mulheres são ainda animais malfazejos, sereias perigosas, sem razão, sem lógica, além dos seus gostos, dos seus apetites, e das quais se deve desconfiar como se desconfia dos tigres...

A senhora Firmiani veio interromper esse monólogo, cujos mil pensamentos contraditórios, incompletos, confusos, são intraduzíveis. O merecimento de um devaneio acha-se





Os capítulos deste livro