A marquesa, que tinha então trinta anos, era bela, ainda que de formas excessivamente delicadas. Seu maior encanto emanava de uma fisionomia cuja calma traía uma maravilhosa profundidade d’alma. Seu olhar cheio de brilho, mas que parecia velado por um pensamento constante, acusava uma vida febril e a mais extensa resignação; e as pálpebras, quase sempre castamente baixadas, raras vezes se erguiam. Se olhava em volta de si, era um movimento triste, e dir-se-ia que reservava o fogo dos seus olhos para ocultas contemplações. Por isso, todo homem superior se sentia curiosamente atraído para aquela mulher meiga e silenciosa. Se o espírito procurava adivinhar os mistérios da reação perpétua que nela se fazia do presente para o passado, da sociedade para a sua solidão, a alma não se interessava menos em se iniciar nos segredos de um coração de algum modo orgulhoso dos seus sofrimentos. Nela, de resto, nada desmentia as idéias que primeiro inspirava. Como quase todas as mulheres que têm os cabelos compridos, era pálida e perfeitamente branca. A pele, de extraordinária