A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 105 / 205

- Minha senhora disse, sentando-se junto dela -, uma feliz indiscrição fez-me saber que tive, não sei a que título, a felicidade de ser notado pela senhora. Devo-lhe tanto mais agradecimento, quando nunca fui objeto de semelhante favor. Portanto, a senhora será responsável por um dos meus defeitos. De hoje em diante, deixarei de ser modesto...

- Fará mal, senhor - disse a marquesa rindo -; devemos deixar a vaidade a quem não tenha outra coisa a ostentar.

Estabeleceu-se, em seguida, uma conversação entre a marquesa e o diplomata, que, segundo o uso, trataram num momento de mil assuntos: a pintura, a música, a literatura, a política, os homens, os acontecimentos e as coisas. Depois, insensivelmente, entraram no eterno assunto das conversações francesas e estrangeiras: amor, sentimentos e mulheres.

- Nós somos escravas.

- Não, são rainhas.

As frases mais ou menos espirituosas trocadas entre Carlos e a marquesa podiam reduzir-se a essa simples expressão de todos os discursos presentes e futuros sobre o assunto. Estas duas frases não significarão sempre tudo num dado momento: - Me ame. - Eu lhe amarei.

- Senhora marquesa - exclamou Carlos de Vandenesse com doçura -, faz-me deixar Paris com imensa saudade. Não encontrarei certamente na Itália horas tão inteligentes como as que acabo de passar.

- Encontrará talvez a felicidade, senhor, que vale bem mais que todos os pensamentos brilhantes, verdadeiros ou falsos, que se dizem todas as noites em Paris.

Antes de cumprimentar a marquesa, Carlos obteve a permissão de ir fazer-lhe as suas despedidas. Considerou-se muito feliz por ter dado ao seu pedido o cunho de sinceridade, quando nessa noite, ao deitar-se, e no dia seguinte, durante todo o dia, lhe foi impossível banir aquela mulher do pensamento.





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