A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 11 / 205

A fronte era larga e alta. Os olhos de fogo, sombreados por espessas sobrancelhas e orlados de compridas pestanas, desenhavam-se como duas ovais brancas entre duas linhas negras. O nariz oferecia a graciosa curva de um bico de águia. O vermelho dos lábios era realçado pelas sinuosidades do inevitável bigode preto. Suas faces amplas e fortemente coloridas ofereciam tons castanhos e amarelos que denotavam extraordinário vigor. Seu rosto, um desses em que a bravura estampou seu distintivo, oferecia o tipo que o artista hoje procura quando pensa representar um dos heróis da França imperial. O cavalo, coberto de suor e cuja cabeça agitada revelava extrema impaciência, as duas patas dianteiras afastadas e colocadas numa mesma linha, agitava as longas crinas da sua bela cauda, e a sua dedicação oferecia uma imagem material da que o seu dono manifestava pelo imperador. Vendo o bem-amado tão ocupado em procurar os olhares de Napoleão, Júlia experimentou um sentimento de ciúme, pensando que ele ainda não havia olhado para ela. De súbito, o soberano pronuncia uma palavra. Victor esporeia os flancos do cavalo e parte a galope; mas a sombra de um marco projetada na areia assusta o animal, que se espanta, recua e empina tão bruscamente que o cavaleiro parece estar em perigo. Júlia solta um grito, empalidece; todos fitam-na com curiosidade; ela não vê ninguém: os seus olhos estão fixos no cavalo demasiado fogoso que o oficial castiga enquanto corre a transmitir as ordens de Napoleão. Esses quadros estonteantes absorviam Júlia de tal modo que, sem perceber, se agarrara ao braço do pai, a quem revelava involuntariamente seus pensamentos pela pressão mais ou menos viva dos seus dedos. Quando Victor escapou de ser derrubado do cavalo, a mocinha agarrou-se ainda mais violentamente ao pai, como se ela mesma estivesse em perigo de cair.




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