- Amo - dizia dessa vez Carlos de Vandenesse ao deixar a marquesa -, e para minha desgraça encontro uma mulher presa a recordações. A luta é difícil contra um morto, que não se acha presente para fazer tolices, que nunca desagrada e de quem apenas se vêem as boas qualidades. Não será querer destronar a perfeição tentar matar os encantos da memória e as esperanças que sobrevivem a um amante perdido, precisamente porque só despertou desejos, tudo que o amor tem de mais belo, de mais sedutor?
Essa triste reflexão, devida ao desânimo e ao receio de não vencer, pelos quais começam todas as verdadeiras paixões, foi o último cálculo da sua diplomacia expirante. Desde então, não teve mais reservas, tornou-se o joguete do seu amor e perdeu-se nos nadas dessa felicidade inexplicável que uma palavra, o silêncio, uma vaga esperança alimentam. Quis amar platonicamente, foi todos os dias respirar o ar que a marquesa d’Aiglemont respirava, incrustou-se quase em sua casa e acompanhou-a por toda parte com a tirania de uma paixão, que mistura o seu egoísmo à mais absoluta dedicação. O amor tem que saber encontrar o caminho do coração como o inseto caminha para sua flor com uma vontade irresistível que por nada se assusta.