A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 115 / 205

Assim, quando um sentimento para seu destino duvidoso. Não é para lançar uma mulher em todas as angústias do terror, se ela vem a pensar que a sua vida depende da maior ou menor verdade, da força e persistência do amor do seu amante? Ora, é impossível a uma mulher, a uma esposa, a uma mãe preservar-se do amor de um rapaz; a única coisa que logrará fazer é deixar de vê-lo no momento em que adivinhe esse segredo do coração, que uma mulher adivinha sempre. Mas esse partido parece demasiado decisivo para que uma mulher o possa tomar numa idade em que o casamento pesa, aborrece e fatiga, em que a afeição conjugal é mais do que insípida, se porventura já não está abandonada pelo marido. Se forem feias, ficam lisonjeadas com um amor que as torna belas; se novas e bonitas, a sedução deve estar à altura dos seus encantos e é, então, enorme; virtuosas, um sentimento terrenamente sublime leva-as a encontrar não sei que absolvição na própria grandeza dos sacrifícios que fazem ao amante e da glória nessa luta difícil. Tudo é cilada. Por isso, nenhuma lição é por demais forte para tão grandes tentações. A reclusão ordenada outrora à mulher na Grécia, no Oriente, e que se torna moda na Inglaterra, é a única salvaguarda da moral doméstica; porém, sob o império desse sistema, os prazeres do mundo fenecem: nem a sociedade nem a cortesia nem a elegância dos costumes são então possíveis. As nações deverão escolher.

Alguns meses depois de seu primeiro encontro com Vandenesse, a senhora d’Aiglemont achou sua vida estreitamente ligada à desse rapaz; admirou-se, sem excessiva confusão, e quase com um certo prazer, de partilhar seus gostos e pensamentos. Fora ela que tomara as idéias de Vandenesse, ou este que se submetera aos seus menores caprichos? Nada examinava; e, levada pela corrente da paixão, essa adorável mulher dizia para si com a falsa boa-fé do medo:

- Oh, não!, serei fiel àquele que morreu por minha causa.





Os capítulos deste livro