Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: Aos trinta anos

Página 114
Amou a senhora d’Aiglemont com essa fé da mocidade, com esse fervor que comunica às primeiras paixões uma graça encantadora, uma candura que o homem só encontra em ruínas mais tarde, quando torna a amar: paixões deliciosas quase sempre saboreadas com delícia pelas mulheres que as fazem nascer, porque nessa bela idade de trinta anos, auge poético da vida das mulheres, elas podem abranger toda a sua vida, ver bem tanto o passado como o futuro. As mulheres conhecem então todo o preço do amor e gozam-no com receio de perdê-lo: sua alma possui ainda a beleza da mocidade que as abandona, e sua paixão é reforçada a cada instante pela idéia do futuro que as assusta.

- Amo - dizia dessa vez Carlos de Vandenesse ao deixar a marquesa -, e para minha desgraça encontro uma mulher presa a recordações. A luta é difícil contra um morto, que não se acha presente para fazer tolices, que nunca desagrada e de quem apenas se vêem as boas qualidades. Não será querer destronar a perfeição tentar matar os encantos da memória e as esperanças que sobrevivem a um amante perdido, precisamente porque só despertou desejos, tudo que o amor tem de mais belo, de mais sedutor?

Essa triste reflexão, devida ao desânimo e ao receio de não vencer, pelos quais começam todas as verdadeiras paixões, foi o último cálculo da sua diplomacia expirante. Desde então, não teve mais reservas, tornou-se o joguete do seu amor e perdeu-se nos nadas dessa felicidade inexplicável que uma palavra, o silêncio, uma vaga esperança alimentam. Quis amar platonicamente, foi todos os dias respirar o ar que a marquesa d’Aiglemont respirava, incrustou-se quase em sua casa e acompanhou-a por toda parte com a tirania de uma paixão, que mistura o seu egoísmo à mais absoluta dedicação. O amor tem que saber encontrar o caminho do coração como o inseto caminha para sua flor com uma vontade irresistível que por nada se assusta.

<< Página Anterior

pág. 114 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 114

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190