A Mulher de Trinta Anos - Cap. 4: O dedo de Deus Pág. 132 / 205

em moda, fizera fortuna, e cujas infâmias eram escrupulosamente pormenorizadas pelo espirituoso notário, o diplomata ouviu soar nove horas; viu que seu hóspede era decididamente um imbecil, que devia despedir sem maior cerimônia, e interrompeu-o resolutamente com um gesto.

- Quer as tenazes, senhor marquês? - perguntou o notário, apresentando-as ao cliente.

- Não, senhor, sou obrigado a despedi-lo. Esta senhora quer ir reunir-se aos seus filhos, e tenho a honra de a acompanhar.

- Já nove horas! O tempo passa como por encanto em tão agradável companhia - disse o notário, que falava havia uma hora sem que lhe dessem resposta. Procurou o chapéu e pôs-se frente à lareira, dizendo ao seu cliente, sem reparar nos olhares terríveis que lhe lançava a marquesa: - Em resumo, senhor marquês, os negócios antes de tudo. Mandaremos amanhã, pois, uma intimação a seu irmão para o prevenir; procederemos, em seguida, ao inventário, e depois...

O notário compreendera tão mal as intenções do seu cliente, que tomava o negócio em sentido inverso às instruções que acabara de receber. Esse incidente era demasiado delicado para que Vandenesse não retificasse involuntariamente as idéias do estúpido notário, e daí se seguiu uma discussão que levou certo tempo.

- Escute - disse afinal o diplomata, a um sinal da marquesa -, o senhor está me importunando; volte amanhã às nove horas com o meu advogado.

- Mas tenho a honra de lhe observar, senhor marquês, que não temos a certeza de encontrar amanhã o senhor Desroches, e se a intimação não for feita antes do meio-dia, o prazo expira e...

Nesse momento, entrou uma carruagem no pátio, e, ouvindo-a, a pobre senhora voltou-se rapidamente para ocultar as lágrimas que lhe acudiram aos olhos. O marquês tocou





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