A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 143 / 205

saião, a diversidade das atitudes, as oposições devidas aos trajes de diferentes cores, os contrastes desses rostos tão caracterizados pelas diferentes idades e pelos contornos que as luzes tornavam salientes, espalhavam sobre essas páginas humanas todas as riquezas pedidas aos escultores, aos pintores, aos escritores. Enfim, o silêncio e o inverno, a solidão e a noite emprestavam sua majestade a essa sublime e simples composição, efeito sublime da natureza. A vida conjugal é repleta dessas horas sagradas, cujo encanto indefinível é talvez devido a alguma lembrança de um mundo melhor. Dardejam, por certo, raios celestes sobre essas cenas, destinadas a compensar o homem de uma parte dos seus pesares e fazê-lo aceitar a existência. Dir-se-ia que o universo se acha em frente de nós sob uma forma encantadora, que desenvolve suas grandes idéias de ordem, que a vida social advoga pelas suas leis falando do futuro.

Todavia, apesar do olhar de ternura que Helena lançava sobre Abel e Moina quando externavam a sua alegria, apesar da felicidade expressa no seu rosto ao contemplar furtivamente o pai, notava-se um profundo sentimento de melancolia nos seus gestos, na atitude e principalmente nos seus olhos sombreados por compridas pestanas. Suas mãos lindas e brancas, através das quais passava a luz, comunicando-lhe um rubor diáfano e quase fluido, essas mãos tremiam. Só uma vez os seus olhares se cruzaram com os da marquesa. Essas duas mulheres compreenderam-se então por um olhar baço, frio, respeitoso da parte de Helena, sombrio e ameaçador na mãe. Helena deixou prontamente a vista sobre o bastidor, puxou apressada a agulha, e por muito tempo não voltou a erguer a cabeça, que lhe parecia ter-se tornado pesada demais. Se ria a mãe excessivamente





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