A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 15 / 205

- Eu, de quem logo você não mais ouvirá a voz tão amigavelmente zangada. Sempre reconheci que os filhos atribuem a um sentimento pessoal os sacrifícios que lhes impõem os pais! Case com Victor, minha Júlia. Um dia você deplorará amargamente a sua nulidade, a sua falta de ordem, o seu egoísmo, a sua falta de delicadeza, a sua inépcia em amor e mil outros pesares que você sofrerá por sua causa. Então lembre-se de que sob estas árvores a voz profética de seu velho pai ressoou em vão aos seus ouvidos!

O velho calou-se. Tinha surpreendido a filha meneando a cabeça com ar de dúvida. Ambos se dirigiram para a grade onde a carruagem os esperava. Durante esse trajeto silencioso, a jovem examinou furtivamente o rosto do pai, e pouco a pouco foi-se tornando séria. A profunda dor gravada na fronte inclinada do ancião causou-lhe vivíssima impressão.

- Prometo-lhe, meu pai - disse Júlia com uma voz meiga e alterada -, que não tornarei a falar de Victor, sem que veja destruídas as prevenções que nutre contra ele.

O velho fitou a filha com pasmo. Duas grossas lágrimas deslizaram-lhe ao longo das faces enrugadas. Não pôde beijar a filha à vista da multidão que os rodeava, porém apertou-lhe ternamente a mão. Subindo à carruagem, todos os pensamentos melancólicos haviam desaparecido completamente. A atitude um pouco triste de sua filha o inquietava bem menos que a alegria inocente, cujo segredo escapara a Júlia durante a revista.

Nos primeiros dias do mês de março de 1814, pouco menos de um ano depois dessa revista do imperador, uma caleça rodava pela estrada de Amboise a Tours. Ao deixar a abóbada verde das nogueiras sob as quais se ocultava o correio de Frilliere, o carro seguiu com tal rapidez que depressa chegou à ponte construída sobre o Cise, na embocadura desse rio com o Loire, e ali parou.





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