A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 154 / 205

Aqui tem a chave, minha filha. Seu pai, recomendando-lhe que guardasse silêncio sobre o que aqui se passa neste momento, não lhe proibiu que subisse a esse quarto. Vá e fique sabendo que uma mãe nunca deve ser julgada por sua filha...

Depois de ter proferido essas últimas palavras com toda a severidade de uma mãe ofendida, a marquesa pegou a chave e entregou-a a Helena, que se ergueu sem dizer uma palavra e saiu da sala.

- Minha mãe sempre saberá obter o seu perdão; eu, porém, ficarei perdida no espírito de meu pai. Quererá ela privar-me da ternura que ele tem por mim, expulsar-me de casa?

Essas idéias fermentaram subitamente na sua imaginação, enquanto seguia às escuras pelo longo corredor, ao fundo do qual se achava a porta do misterioso quarto. Quando ali chegou, a desordem dos seus pensamentos tinha qualquer coisa de fatal. Essa espécie de meditação confusa serviu para fazer surgirem mil sentimentos até então contidos no seu coração. Já não acreditando talvez num futuro feliz, acabou, nesse terrível momento, por desesperar da vida. Tremeu convulsivamente ao meter a chave na fechadura, e a sua comoção tornou-se mesmo tão forte que parou um momento para pôr a mão sobre o coração, como se tivesse o poder de lhe acalmar as pulsações fundas e sonoras. Afinal, abriu a porta. O assassino não ouviu por certo o ruído dos gonzos. Apesar de ter o ouvido mui to apurado, ficou quase colado à parede, imóvel e co mo que perdido nos seus pensamentos. O círculo de luz projetado pela lanterna iluminava-o tenuemente e, na semi-escuridão em que se achava, assemelhava-se a essas sombrias estátuas de cavaleiros, sempre de pé no canto de algum negro túmulo em capelas góticas. Gotas de frio suor sulcavam-lhe a fronte pálida e alta. Uma audácia incrível brilhava naquele rosto fortemente contraído.





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