A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 157 / 205

Ainda se ouviu um certo ruído. Caiu uma cadeira. Um cocheiro muito antigo na casa tossiu durante algum tempo e calou-se. Mas, dentro em pouco, a majestade sombria que eclode na natureza adormecida à meia-noite dominou tudo. Só as estrelas brilhavam. O frio tinha se apoderado da terra. Ninguém falava ou se movia. Somente o fogo crepitava, como para fazer compreender a profundidade do silêncio. O relógio de Montreuil deu uma hora. Nesse momento, passos muito ligeiros ressoaram no andar superior. O marquês e a filha, certos de terem fechado à chave o assassino do senhor de Mauny, atribuíram-nos a uma das criadas, e não se admiraram de ouvir abrir a porta do aposento que precedia o salão. De repente, o assassino achou-se no meio deles. O estupor do marquês, a viva curiosidade da mãe e o espanto da filha permitiram-lhe avançar quase até o meio da sala; dirigiu-se então ao general numa voz singularmente serena e melodiosa: - Senhor, as duas horas vão expirar.

- Como se acha aqui? - exclamou o general. - Por que poder? - E, com um olhar terrível, interrogou a mu1her os filhos.

Helena fez-se vermelha como o fogo.

- O senhor - tornou o militar, raivoso -, no meio de nós! Um assassino coberto de sangue, aqui! O senhor mancha este quadro! Saia! Saia! - acrescentou furioso.

À palavra assassino, a marquesa deu um grito. Quanto a Helena, esse epíteto pareceu decidir a sua vida; seu rosto não acusou o mínimo espanto. Parecia-lhe que esperava aquele homem. Seus pensamentos, tão vastos, tiveram um sentido. O castigo que o céu reservava às suas culpas manifestava-se. Julgando-se tão criminosa como aquele homem, a jovem fitou-o serenamente; era sua companheira, sua irmã. Via naquela circunstância uma ordem de Deus. Alguns anos mais tarde, a razão teria feito justiça com seus remorsos; mas naquele momento eles a tornavam insensata, O desconhecido conservou-se imóvel e frio, um sorriso de desdém nos grossos lábios vermelhos.





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