A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 173 / 205

- As âncoras de abordagem! - exclamou o oficial.

E o Saint-Ferdinand foi atracado ao Otelo com incrível rapidez.

Segundo as ordens dadas em voz baixa pelo corsário e transmitidas pelo oficial, os homens designados para os diferentes serviços se dirigiram, como se minaristas em direção à igreja, para o convés do navio mercante, a fim de atarem as mãos dos marinheiros e passageiros e apoderarem-se dos tesouros. Num momento, os tonéis cheios de piastras, os víveres e a tripulação do Saint-Ferdinand foram transportados para bordo do Otelo. O general julgou-se presa de um pesadelo quando se viu de mãos atadas e lançado co mo um fardo, como se ele também fosse uma mercadoria. Houve uma conferência entre o corsário, o oficial e um dos marinheiros que parecia exercer as funções de contramestre. Quando a discussão, que foi curta, terminou, o marinheiro assobiou para reunir os homens; a uma ordem que lhes deu, pularam todos para o Saint-Ferdinand, subiram ao cordame e começaram a despojá-lo das vergas e das velas, com tanta presteza como um soldado despe no campo da batalha um camarada morto cujos sapatos e capotes eram objeto de sua cobiça.

- Estamos perdidos - disse friamente ao marquês o capitão espanhol, que espiara os gestos dos três chefes durante a deliberação e os movimentos dos marinheiros que procediam à pilhagem do seu brigue.

- Como? - perguntou o general no mesmo tom.

- Que quer que façam de nós? - tornou o espanhol. - Acabam por certo de reconhecer que dificilmente venderiam o Saint-Ferdinand nos portos da França ou da Espanha, e vão metê-lo a pique para se verem livres dele. Quanto a nós, julga que se vão encarregar do nosso sustento quando nem sequer sabem para onde vão se dirigir?

Apenas o capitão pronunciara essas palavras, o general ouviu um horrível clamor, seguido do baque surdo causado pela queda de vários corpos ao mar.





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