A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 174 / 205

Voltou-se e viu os quatro negociantes. Oito artilheiros de rostos sinistros tinham ainda os braços no ar quando o general os fitou com terror.

- Que lhe dizia eu? - tornou friamente o capitão espanhol.

O marquês ergueu-se bruscamente, mas o mar já se achava calmo, nem sequer pôde ver o lugar onde seus desgraçados companheiros haviam desaparecido; rolavam nesse momento, de pés e mãos atadas, sob as ondas, se os peixes já não os tivessem devorado. A pequena distância, o pérfido timoneiro e o marinheiro do Saint-Ferdinand que pouco antes gabara o poder do capitão Parisiense confraternizavam com os corsários e indicavam-lhes os marinheiros do brigue que reconheciam dignos de ser incorporados à equipagem do Otelo; quanto aos outros, dois grumetes tratavam de lhes prender os pés, não obstante as medonhas pragas que proferiam. Terminada a escolha, os oito artilheiros apoderaram-se dos condenados e lançaram-nos sem cerimônia ao mar.

Os corsários olhavam com maliciosa curiosidade as diferentes maneiras como esses homens caíam, as caretas que faziam, a sua última tortura; mas seus rostos não traíam nem zombaria, nem espanto, nem piedade. Era para eles um acontecimento muito simples, a que pareciam acostumados. Os mais velhos contemplavam de preferência, com um sorriso sombrio e inabalável, os tonéis cheios de piastras, depostos perto do grande mastro. O general e o capitão Gomez, sentados sobre um fardo, consultavam-se em silêncio com um olhar melancólico. Eram os únicos que restavam da equipagem do Saint-Ferdinand. Os sete marinheiros escolhidos pelos dois espiões dentre os espanhóis já estavam alegremente metamorfoseados em peruanos.

- Que grandes patifes! - exclamou o general, em quem uma leal e generosa indignação fez calar a dor e a prudência.





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