A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 18 / 205

Essa parte da França, a única que os exércitos estrangeiros não deviam perturbar, era no momento a única que se achava tranqüila: dir-se-ia que ela desafiava a invasão.

Uma cabeça coberta por um gorro de quartel apareceu à portinhola da caleça assim que esta parou; em seguida, um impaciente militar saltou para a estrada disposto a invectivar o cocheiro. A perícia com que esse nativo da região consertava o tirante partido tranqüilizou o coronel conde d’Aiglemont, que voltou para junto do carro, estendendo os braços como para esticar os músculos adormecidos; bocejou, admirou a paisagem, e tocou no braço de uma jovem cuidadosamente envolta numa capa forrada de peles.

- Acorde, querida - disse o militar com a voz um tanto rouca -; olhe essa terra. E magnífica!

Júlia pôs a cabeça fora da caleça. Um capuz forrado de peles de marta cobria-lhe a cabeça, e as pregas da capa em que se envolvia ocultavam-lhe tão bem as formas que apenas se lhe via o rosto. Júlia d’Aiglemont já não se parecia com a jovem que há pouco corria alegre e feliz à revista das Tulherias. O rosto, sempre delicado, havia perdido as cores rosadas e frescas. Os cabelos negros, um pouco desfrisados pela umidade da noite, faziam sobressair a brancura mate da tez, cuja vivacidade parecia adormecida. Seus olhos, contudo, tinham um brilho sobrenatural; mas, abaixo das pálpebras, certos tons violeta se faziam notar sobre o rosto fatigado. Examinou com olhar indiferente os campos do Cher, o Loire e as suas ilhas, Tours e os altos rochedos de Vouvray; depois, sem querer olhar para o vale encantador do Cise, recolheu-se ao fundo da caleça e disse, num tom de voz que acusava extrema fraqueza:

- Sim, é admirável.

Ela havia, como se vê, para a sua desgraça, triunfado sobre o pai.





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