- Não gostaria de viver aqui, Júlia?
- Oh!, aqui ou ali - disse com indiferença.
- Você sente alguma coisa? - perguntou-lhe o coronel d’Aiglemont.
- Absolutamente nada - respondeu com momentânea vivacidade.
Contemplou o marido sorrindo e acrescentou:
- Sinto vontade de dormir.
Ouviu-se de repente o galope de um cavalo. Victor d’Aiglemont largou a mão da esposa e voltou a cabeça para o cotovelo que a estrada forma naquele lugar. No momento em que Júlia deixou de ser vista pelo coronel, a expressão de alegria que ela dera ao rosto pálido desapareceu por completo. Não experimentando nem o desejo de tornar a ver a paisagem nem a curiosidade de saber quem era o cavaleiro que galopava com tal ímpeto, voltou a encostar-se ao canto da caleça, e seus olhos fixaram-se sem curiosidade na garupa dos cavalos. Tinha um ar tão estúpido como pode ser o de um camponês bretão ouvindo o sermão do seu vigário. Um rapaz montando um cavalo puro-sangue surgiu de repente de um pequeno bosque de choupos e de espinheiros em flor.
- É um inglês - disse o coronel.
- Meu Deus! Sim, meu general - replicou o cocheiro. - E da raça daqueles que querem comer a França, segundo dizem por aí.
O desconhecido era um desses viajantes que se encontravam no continente quando Napoleão mandou prender todos os ingleses, como represália ao atentado cometido contra o direito das gentes pelo ministério de Saint-James, na ocasião da ruptura do Tratado de Amiens. Submetidos ao capricho do poder imperial, nem todos esses prisioneiros ficaram nas residências onde tinham sido encontrados, nem naquelas que tiveram primeiro a liberdade de escolher. A maior parte dos que habitavam então a Touraine havia sido para aí transferida de diversos pontos do império, onde sua permanência parecera comprometer os interesses da política continental.