A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 186 / 205

O rum produzia labaredas azuis que brilhavam como se o gênio dos mares tivesse agitado esse licor furibundo, tal como a mão de um estudante faz mover a alegre chama do ponche numa orgia. Mas o sol, mais poderoso em luz, invejoso dessa claridade insolente, mal deixava ver nos seus raios as cores daquele incêndio. Era como uma rede, um lenço que voltejava no meio da torrente de fogo. O Otelo achava-se longe; a chalupa aproximava-se da terra; a nuvem se interpôs entre a frágil embarcação e o brigue. A última vez que o general viu a filha foi através de um interlúdio nesse fumo ondulante. Visão profética! Só se destacavam o lenço branco e o vesti do fundo do escuro. Entre a água verde e o céu azul, o brigue nem sequer era visto. Helena formava apenas um ponto imperceptível, uma linha delgada, graciosa, um anjo no céu, uma idéia, uma recordação.

Depois de ter restabelecido sua fortuna, o mar quês morreu exausto de fadiga. Alguns meses depois da sua morte, em 1833, a marquesa foi obrigada a levar Moina às águas dos Pireneus. A caprichosa criança quis ver a beleza daquelas montanhas. Voltou às águas, e no regresso passou-se esta horrível cena:

- Meu Deus! - disse Moina -, fizemos bem mal, minha mãe, em não ficar mais alguns dias nas montanhas! Estávamos lá bem melhor do que aqui. Ouviu os contínuos gemidos daquela maldita criança e a tagarelice dessa desgraçada mulher que fala, sem dúvida, um dialeto, porque não entendi uma só palavra do que dizia? Que gente nos deram por vizinhos! Esta noite foi uma das mais terríveis na minha vida.

- Não ouvi nada - respondeu a marquesa -; mas, minha querida filha, vou falar com a hospedeira e pedir-lhe o quarto contíguo; ali estaremos sós e não teremos barulho. Como você se sente hoje? Está cansada?

Dizendo essas últimas frases, a marquesa erguera-se para se aproximar do leito de Moina.





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