A Mulher de Trinta Anos - Cap. 6: A velhice de uma mãe culpada Pág. 192 / 205

Ninguém pensava considerar um crime essa frieza, esse esquecimento que a ninguém interessava, enquanto sua viva ternura por Moina interessava a muita gente e tinha toda a santidade de um preconceito. De resto, a marquesa pouco freqüentava a sociedade; e, para a maior parte das famílias que a conheciam, parecia boa, meiga, piedosa, indulgente. Ora, não seria preciso um interesse vivo para ir além dessas aparências com que o mundo se contenta? Ademais, o que não se perdoa aos velhos, quando se apagam como sombras e só desejam ser uma recordação? Enfim, a senhora d’Aiglemont era um modelo complacentemente citado pelos filhos aos pais, pelos genros às sogras. Tinha, ainda em vida, doado os bens a Moina, contente com a felicidade da jovem condessa e vivendo só por ela e para ela. Se algum velho prudente, algum tio mal-humorado censurava seu procedimento dizendo: A senhora d’Aiglemont talvez se arrependa um dia de haver-se desapossado da sua fortuna em favor da filha; porque, se conhece bem o coração da senhora de Saint-Héreen, pode ter a mesma confiança na moralidade do genro?, elevava-se imediatamente contra esses profetas um murmúrio geral e, de todos os lados, choviam elogios a Moina.

- Deve prestar-se essa justiça à senhora de Saint Héreen - dizia uma senhora muito nova -; a mãe não achou mudança alguma em torno de si. A senhora d’Aiglemont está muito bem alojada; tem carruagem sempre às ordens e pode freqüentar a sociedade como dantes, e ir aonde queira...

- Exceto aos Italianos - respondia em voz baixa um velho parasita, uma dessas personagens que se julgam no direito de cumular os amigos de epigramas sob o pretexto de dar provas de independência. - A marquesa só gosta de música, no que toca a assuntos estranhos à sua filha predileta.





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