Capítulo 6: A velhice de uma mãe culpada
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Gustavo deixou viúva e filhos. Mas a afeição bastante tibia que a senhora d’Aiglemont tivera pelos seus dois filhos enfraquecera ainda mais passando para os netos. Procedia muito corretamente com a senhora d’Aiglemont, filha; mas cingia-se ao sentimento superficial que o bom-gosto e as conveniências nos mandam testemunhar ao próximo. Regularizada a fortuna dos filhos mortos, reservava para a sua querida Moina suas economias e seus bens. Moina, bela e encantadora desde criança, tinha sido sempre para a senhora d’Aiglemont objeto de uma dessas predileções inatas ou involuntárias nas mães-de-família; simpatias fatais que parecem inexplicáveis, ou que os observa dores sabem explicar bem, O rosto muito sedutor de Moina, o som da voz dessa filha querida, os modos, o andar, a fisionomia, os gestos, tudo despertava na marquesa as mais profundas emoções que podem animar, perturbar ou encantar o coração de uma mãe. O princípio da sua vida presente, futura e passada estava no coração daquela jovem, em que lançara todos os seus tesouros. Moina felizmente sobrevivera aos irmãos mais velhos. A senhora d’Aiglemont perdera, da maneira mais desgraçada, dizia-se na alta roda, uma menina encantadora, cujo destino era quase desconhecido, e um menino de cinco anos, vítima de uma catástrofe horrível. A marquesa viu certamente um presságio do céu no respeito que o destino parecia reservar à preferida, e tinha apenas fracas recordações dos filhos que a morte arrebatara ao sabor dos seus caprichos, e que conservava no fundo de sua alma, como esses túmulos que, erigidos num campo de batalha, quase desaparecem sob as flores do campo. O mundo poderia ter pedido à marquesa severas contas dessa indiferença e dessa predileção; porém a sociedade de Paris é arrastada por tal torrente de acontecimentos, de modas, de idéias novas, que a existência da senhora d’Aiglemont era aí esquecida.
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