A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 21 / 205

pudesse ser censurado, o coronel contentava-se em lançar-lhe um olhar ameaçador, mas não pôde, apesar da sua involuntária inimizade, impedir-se de notar a beleza do cavalo e o garbo do cavaleiro, O rapaz possuía um desses rostos britânicos, cuja cor é tão suave, a pele tão fina e branca, que somos tentados por vezes a supor que pertencem ao corpo delicado de uma donzela. Era louro, alto e magro. Notava-se no seu traje esse requinte de cuidado e asseio que distingue os elegantes da grave Inglaterra. Dir-se-ia que ele ruborizava mais de pudor que de prazer ao aspecto da condessa. Uma vez apenas Júlia ergueu os olhos para o estrangeiro, mas foi por assim dizer obrigada pelo marido, que queria fazê-la admirar as pernas de um cavalo de raça pura. Os olhos de Júlia encontraram, então, os do tímido inglês. A partir desse momento, o cavaleiro, em vez de seguir ao lado da caleça, caminhava a alguns passos de distância. A condessa mal olhou para o desconhecido Não notou nenhuma das perfeições que lhe eram atribuídas, e encostou-se de novo ao fundo da caleça, depois de ter feito um leve movimento de pálpebras, concordando com a opinião do marido. O coronel adormeceu novamente, e os dois esposos chegaram a Tours sem terem trocado uma só palavra e sem que o panorama encantador, sempre renovado, atraísse uma só vez o olhar de Júlia. Enquanto o marido dormitava, a senhora d’Aiglemont contemplou-o várias vezes. Numa delas, um solavanco fez-lhe cair sobre o regaço uma medalha que usava, suspensa ao pescoço por um cordão de luto, e apareceu-lhe de súbito o retrato do pai. Então as lágrimas, até ali contidas, correram-lhe pelas faces. O inglês viu, talvez, os traços úmidos e brilhantes que o pranto deixou por um momento no rosto pálido da condessa, mas que o ar prontamente secou.




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