A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 24 / 205

Os olhos da condessa não exprimiam o amor como a marquesa o compreendia. A boa senhora era uma provençal, e suas paixões tinham sido violentas.

- Deixou-se, então, fascinar pelo patife do meu sobrinho? - perguntou à sobrinha.

A condessa estremeceu involuntariamente, porque o tom e o olhar da velha senhora pareciam-lhe anunciar um profundo conhecimento do caráter de Victor. A senhora d’Aiglemont, inquieta, mostrou uma dissimulação inábil, primeiro refúgio dos corações ingênuos e sofredores. A senhora de Listomère contentou-se com as respostas de Júlia; mas pensou com prazer que sua solidão ia ser distraída por alguma intriga amorosa que a divertiria. Quando a condessa d’Aiglemont se achou num grande salão forrado de tapeçarias emolduradas por frisos dourados, sentada em frente de um bom fogo, abrigada da corrente de ar por um biombo chinês, a sua tristeza não conseguiu dissipar-se. Era difícil poder nascer a alegria entre decorações antigas e móveis seculares. Contudo, a jovem parisiense sentiu certo prazer naquela profunda solidão e no silêncio da solene província. Depois de ter trocado algumas palavras com aquela tia, a quem escrevera apenas uma carta logo após o casamento, ficou silenciosa como se estivesse ouvindo uma ópera. Foi só passadas duas horas de um sossego digno da Trappa que Júlia notou a sua indelicadeza para com a tia; lembrou-se de que só lhe havia dirigido respostas frias e indiferentes. A velha senhora tinha respeitado o capricho da sua sobrinha com esse instinto cheio de graça que caracteriza a gente de outro tempo. Nesse momento, a velha marquesa tricotava. Tinha-se ausentado, com efeito, por diversas vezes, para se ocupar de um certo quarto verde, onde a condessa devia instalar-se e onde os criados da casa colocavam a bagagem; mas voltara depois para seu lugar numa grande poltrona, e olhava de soslaio para a jovem sobrinha.





Os capítulos deste livro