A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 27 / 205

Insensivelmente, tomou gosto pela anatomia, pela medicina, apaixonou-se por essas artes, o que é extraordinário num homem de qualidades; mas também o regente dedicou-se à química! Em resumo, o senhor Artur fez espantosos progressos, mesmo para os professores de Montpellier; o estudo consolou-o do cativeiro, e ao mesmo tempo ele se curou radicalmente. Diz-se que esteve dois anos sem falar, respirando raramente, dormindo numa estrebaria, bebendo leite de uma vaca da Suíça e alimentando-se de agriões. Desde que se encontra em Tours, não procurou ninguém, é orgulhoso como um pavão, mas a minha querida fez decerto a sua conquista, pois de fato não é por minha causa que ele passa debaixo das nossas janelas duas vezes por dia desde que você está aqui... Com certeza, ele a ama.

Essas últimas palavras despertaram a condessa como por magia. Sorriu de um modo que surpreendeu a marquesa. Longe de testemunhar essa satisfação instintiva que qualquer mulher, por mais severa que seja, sente ao saber que há alguém infeliz por sua causa, o olhar de Júlia foi apagado e frio, O seu rosto indicava um sentimento de repulsa, quase de horror. Essa proscrição não era aquela que uma mulher amorável fulmina sobre o mundo inteiro em proveito de um único ente: ela sabe então rir e gracejar; não, Júlia tinha, nesse instante, a atitude de alguém que sente ainda a recordação de um perigo que a fez sofrer muitíssimo. A tia, convencida de que a sua sobrinha não amava o sobrinho, ficou estupefata ao descobrir que também não amava outro. Tremeu ao ter de reconhecer em Júlia um coração desiludido, uma jovem a quem a experiência de um dia, de uma noite talvez, havia bastado para avaliar a nulidade de Victor.

- Se ela o conhece, tudo está dito - pensou -; o meu sobrinho virá talvez a sofrer os inconvenientes do matrimônio.





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