A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 29 / 205

Semelhante a uma jovem virtuosa que acabrunha o amante de impropérios, mas que à noite se encontra tão triste, tão abandonada, que o deseja e quer um coração onde deponha os seus sofrimentos, Júlia deixou violar, sem proferir uma palavra, o sigilo que a delicadeza imprime numa carta aberta, e ficou pensativa enquanto a marquesa lia.

“Minha querida Luísa, por que se há de reclamar tantas vezes o cumprimento da promessa mais imprudente que se possam fazer duas jovens ignorantes? Muitas vezes você se pergunta, escreve-me, indagando por que há seis meses não respondo às suas perguntas. Se não compreende meu silêncio, hoje conhecerá talvez a causa, sabendo os mistérios que estou traindo. Os teria sepultado no fundo do meu coração, se você não me avisasse do seu próximo casamento. Vai casar, Luísa. Esta notícia fez-me tremer. Pobre criança, case; depois, dentro de alguns meses, um dos seus mais amargos pesares será causado pela recordação do que já fomos, quando uma noite, em Ecouen, subindo as montanhas mais altas, contemplamos o formoso vale que tínhamos a nossos pés para admirar o sol poente, cujos reflexos nos envolviam. Sentamos-nos num rochedo e caímos num devaneio a que sucedeu a mais doce melancolia. Você foi a primeira a pensar que aquele sol distante nos falava do futuro. Éramos então curiosas e tontas! Você recorda todas as nossas extravagâncias? ‘Beijemo-nos como dois amantes’, dizíamos. Juramos ambas que a primeira que casasse narraria fielmente à outra esses segredos do himeneu, essas alegrias que as nossas almas juvenis nos afiguravam tão deliciosas. Essa noite será o seu desespero, Luisa. Naquele tempo você era nova, formosa, despreocupada, se não feliz; um marido irá torná-la, em poucos dias, o que eu já sou: feia, doente e velha.





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