A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 34 / 205

Parecia ter feito certo levantamento sobre a vida das duas mulheres solitárias, e nunca deixava de passar enquanto almoçavam ou jantavam. O cavalo retardava o trote sem necessidade de aviso; depois, durante o tempo que levava a percorrer o espaço ocupado pelas duas janelas da sala de jantar, Artur lançava um olhar melancólico, quase sempre desdenhado pela condessa, que não lhe prestava a mínima atenção. Mas, habituada a essas curiosidades mesquinhas que se dão às mais pequeninas coisas, a fim de animar a vida de província, e das quais dificilmente se ocupam os espíritos superiores, a marquesa divertia-se com o amor tímido e sério tão tacitamente expresso pelo inglês. Aqueles olhares periódicos tinham-se tornado um hábito para ela, e todos os dias assinalava a passagem de Artur com novos gracejos. Tomando lugar à mesa, as duas senhoras olharam simultaneamente para o ilhéu. Os olhos de Júlia e de Artur encontraram-se dessa vez com tal precisão de sentimento que a jovem ruborizou. Imediatamente, ele apressou o cavalo e partiu a galope.

- Que devo fazer? - perguntou Júlia à tia. - Quem vir esse inglês aqui pode supor que sou...

- Sim - respondeu a tia, interrompendo-a.

- E então posso dizer-lhe que não passeie por aqui?

- Não seria fazê-lo pensar que é perigoso? E, de resto, pode impedir-se um homem de passar por onde lhe apeteça? Amanhã, deixaremos de fazer as refeições nesta sala; quando já não nos vir aqui, o jovem cavaleiro há de cessar de amá-la pela janela. Eis, minha querida criança, como procede uma mulher que tem experiência da vida.

Mas a desgraça de Júlia devia ser completa. Logo que as duas senhoras se levantaram da mesa, chegou o criado de Victor, inesperadamente. Vinha de Bourges a todo galope, por atalhos, e trazia para a condessa uma carta de seu marido.





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