A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 37 / 205

Graças ao passaporte, a condessa d’Aiglemont chegou a Paris sem outro contratempo. Aí encontrou o marido, que, desligado do juramento de fidelidade ao imperador, havia recebido o mais lisonjeiro acolhimento da parte do conde d’Artois, nomeado general-chefe do reino por seu irmão Luis XVIII. Victor teve um posto eminente na guarda pessoal, que correspondia ao grau de general.

Todavia, em meio às festas que assinalaram o regresso dos Bourbons, a pobre Júlia sofreu um profundo desgosto que muito devia influir na sua vida: perdeu a marquesa de Listomère-Landon. A velha senhora morreu de alegria e da gota que lhe subiu ao coração, vendo novamente em Tours o duque de Angoulême.

Assim, a única pessoa que, por conselhos sensatos, poderia tornar mais perfeito o acordo entre a mulher e o marido, essa pessoa morreu. Júlia sentiu toda a extensão dessa perda. Não havia mais ninguém entre ela e o marido; mas, jovem e tímida, devia preferir o sofrimento à queixa. A própria perfeição do seu caráter opunha-se a que ela ousasse subtrair-se aos deveres ou tentasse procurar a causa de suas dores, porque fazê-las cessar seria coisa muito delicada. Júlia teria medo de ofender seu pudor de moça.

Uma palavra sobre o destino do senhor d’Aiglemont sob a Restauração.

Não se encontram muitos homens cuja profunda nulidade é um segredo para a maior parte das pessoas que os conhecem? Uma posição elevada, um nascimento ilustre, atribuições importantes, certo verniz de polidez, grande reserva no procedimento ou prestígio da fortuna são para eles como guardas que impedem os críticos de penetrar a sua existência íntima. Essa gente se parece com os reis, cuja verdadeira estatura, caráter e costumes nunca podem ser bem conhecidos nem justamente apreciados, porque são vistos de muito longe ou de muito perto.





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