A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 40 / 205

Serviam-no tão bem as suas qualidades como os seus defeitos. A sua bravura valera-lhe alta reputação militar, que coisa alguma desmentia, porque nunca tivera comando algum. Seu rosto másculo e nobre refletia pensamentos vastos, e só para a esposa era uma impostura. Ouvindo todo o mundo prestar justiça aos seus talentos postiços, o marquês d’Aiglemont acabou por se persuadir de que era um dos homens mais notáveis da corte, onde, graças às aparências, soube agradar e onde seus diferentes méritos foram aceitos sem protesto. Contudo, o senhor d’Aiglemont era modesto em sua casa, sentia instintivamente a superioridade da esposa, apesar de muito nova; e desse involuntário respeito nasceu um poder oculto que a marquesa viu-se obrigada a aceitar, apesar de todos os seus esforços para afastar de si o pesado fardo. Conselheira do marido, ela dirigia-lhe os atos e a fortuna. Essa influência antinatural foi para ela uma espécie de humilhação e a origem de muitos desgostos que sepultara no coração. Dizia-lhe seu instinto, tão delicadamente feminino, que é muito mais belo obedecer a um homem de talento que guiar um parvo e que uma esposa jovem, obrigada a pensar e a proceder como um homem, não é nem mulher nem homem, abdica de todas as graças do seu sexo sem perder seus desgostos nem adquirir nenhum dos privilégios que as leis conferiram aos mais fortes. A sua existência ocultava uma irrisão bem amarga. Não era ela obrigada a honrar um ídolo oco? A proteger seu protetor, pobre ser que, por salário de uma dedicação contínua, lhe oferecia o amor egoísta dos maridos, só via nela uma mulher, não se dignava ou não sabia - injúria igualmente profunda - inquietar-se com seus prazeres nem cuidar de sua tristeza e do seu definhamento? Como a maior parte





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