A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 47 / 205

- Em casa da senhora de Sérizy.

Pegara um objeto qualquer que estava sobre a lareira e examinava-o atentamente, sem ter notado os vestígios das lágrimas vertidas por sua mulher. Júlia estremeceu. As palavras seriam impotentes para exprimir a torrente de pensamentos que lhe escapou do coração e que ela teve de conter.

- A senhora de Sérizy dá um concerto na próxima segunda-feira e deseja muito que você assista a essa festa. Como há muito você não aparece na sociedade, é o bastante para ela desejar ver-lhe em sua casa. É uma excelente senhora e lhe estima muito. Me dará muito prazer aceitando seu pedido; quase respondi por você...

- Irei - respondeu Júlia.

O som da voz, a acentuação e o olhar da marquesa tinham qualquer coisa de tão penetrante, tão particular que, apesar de sua indiferença, Victor fitou a mulher com espanto; porém, nada disse. Júlia adivinhara, num relance, que a senhora de Sérizy era a mulher que lhe roubara o coração do marido.

Absorveu-se numa meditação desesperadora, e pareceu muito ocupada a olhar para o fogo. Victor revelava a atitude de um homem que, após ter achado a felicidade noutra parte, só encontra tédio e fadiga em casa. Depois de ter bocejado várias vezes, pegou um castiçal com uma das mãos, com a outra procurou languidamente o pescoço de sua mulher, querendo abraçá-la; mas Júlia curvou-se e apresentou-lhe a fronte, onde ele depôs o beijo de todas as noites, beijo maquinal sem amor, espécie de careta que lhe pareceu então odiosa. Quando Victor fechou a porta, a marquesa deixou-se cair numa cadeira, trêmula e banhada em lágrimas. E preciso ter experimentado o suplício de alguma cena semelhante para compreender os sofrimentos que oculta, para adivinhar os longos e terríveis dramas que ocasiona.





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