A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 5 / 205

Júlia notou com espanto uma multidão enorme que se comprimia no pequeno espaço entre as paredes cinzentas do palácio e os marcos unidos por correntes que cercavam grandes quadrados ensaibrados no meio do pátio das Tulherias. O cordão de sentinelas, formado para deixar uma passagem livre ao imperador e ao seu estado-maior, só a muito custo continha a massa impaciente e ruidosa como um enxame.

- Será mesmo uma maravilha? - perguntou Júlia, sorrindo.

- Cuidado! - advertiu o oficial, que agarrou Júlia pela cintura e, erguendo-a com força e rapidez, levou-a para junto de uma coluna.

Sem esse brusco movimento, a sua irrequieta parenta seria pisada pelo cavalo branco, ajaezado com uma sela de veludo verde e ouro, que o mameluco de Napoleão segurava pela rédea, quase sob a arcada, a dez passos atrás de todos os cavalos que esperavam os oficiais superiores, companheiros do imperador.

O jovem colocou o pai e a filha perto do primeiro marco da direita à frente da multidão, e, por um sinal de cabeça, recomendou-os aos dois velhos granadeiros, entre os quais se achavam. Quando o oficial voltou ao palácio, a felicidade e a alegria transpareciam no seu rosto, alterado um momento pelo susto do perigo que Júlia correra; esta tinha-lhe apertado a mão misteriosamente, fosse para lhe agradecer a proteção que acabava de lhe prestar ou para lhe dizer: “Enfim, vou vê-lo!” Inclinou até meigamente a cabeça em resposta à saudação respeitosa que, assim como ao pai, lhe fez o oficial antes de desaparecer com presteza. O velho, que parecia ter deixado de propósito os dois jovens juntos, permanecia numa atitude pensativa, um pouco atrás da filha; observava-a, porém, de soslaio e tentava inspirar-lhe uma falsa segurança, mostrando-se absorto na contemplação do esplêndido espetáculo que o Carrousel oferecia.





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