A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 55 / 205

dizer nas mulheres, toda a grandeza do amor que havia inspirado, a senhora d’Aiglemont sorriu à esperança de um pronto restabelecimento e não opôs maior resistência à vontade do marido, que a persuadia a aceitar os cuidados do jovem doutor. Contudo, ela não quis fiar-se em lorde Grenville sem ter estudado bem suas palavras e maneiras e adquirido a certeza de que teria a generosidade de sofrer em silêncio. Tinha sobre ele o mais absoluto poder, de que já abusava; não era ela mulher?

Montcontour é um velho solar situado sobre um desses áureos rochedos que dominam o Loire, não longe do lugar onde Júlia parara em 1814. É um desses pequenos castelos da Touraine, brancos, lindos, de torrezinhas esculpidas, bordados como uma renda de Malines; um desses castelos em miniatura, graciosos, que se contemplam alegres nas águas do rio com seus ramos de amoreiras, suas vinhas, suas escavações, suas longas e diáfanas balaustradas, seus mantos de hera e suas escarpas. Os telhados de Montcontour brilham sob os raios de sol, tudo ali é ardente. Mil vestígios da Espanha tornam poética ao extremo essa encantadora habitação: as giestas, as campainhas perfumam a brisa, o ar é acariciador, a terra parece sorrir e, por toda a parte, sente-se a alma envolta em suaves magias, que a tornam preguiçosa, apaixonada, amolecendo-a, embalando-a. Essa formosa e suave região adormece as dores e desperta as paixões. Ninguém se conserva frio sob esse céu puro, diante dessas águas cintilantes. É onde se perde toda ambição e se adormece no seio de uma tranqüila felicidade, como o sol ocultando-se no seu manto de púrpura e azul.

Numa serena tarde do mês de agosto, em 1821, duas pessoas subiam os caminhos pedregosos que recortam os rochedos sobre os quais está assente o castelo e se dirigiam para o ponto mais alto, a fim de apreciar das alturas os inúmeros recantos que se descerram.





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