Montcontour é um velho solar situado sobre um desses áureos rochedos que dominam o Loire, não longe do lugar onde Júlia parara em 1814. É um desses pequenos castelos da Touraine, brancos, lindos, de torrezinhas esculpidas, bordados como uma renda de Malines; um desses castelos em miniatura, graciosos, que se contemplam alegres nas águas do rio com seus ramos de amoreiras, suas vinhas, suas escavações, suas longas e diáfanas balaustradas, seus mantos de hera e suas escarpas. Os telhados de Montcontour brilham sob os raios de sol, tudo ali é ardente. Mil vestígios da Espanha tornam poética ao extremo essa encantadora habitação: as giestas, as campainhas perfumam a brisa, o ar é acariciador, a terra parece sorrir e, por toda a parte, sente-se a alma envolta em suaves magias, que a tornam preguiçosa, apaixonada, amolecendo-a, embalando-a. Essa formosa e suave região adormece as dores e desperta as paixões. Ninguém se conserva frio sob esse céu puro, diante dessas águas cintilantes. É onde se perde toda ambição e se adormece no seio de uma tranqüila felicidade, como o sol ocultando-se no seu manto de púrpura e azul.
Numa serena tarde do mês de agosto, em 1821, duas pessoas subiam os caminhos pedregosos que recortam os rochedos sobre os quais está assente o castelo e se dirigiam para o ponto mais alto, a fim de apreciar das alturas os inúmeros recantos que se descerram.