- Meu amigo - disse ela -, como sabe, quase me matou. Se eu ainda fosse uma jovem inexperiente, poderia recomeçar o sacrifício da minha vida; porém, sou mãe, tenho uma filha para educar, e devo-me tanto a uma como a outro. Soframos uma desgraça que nos atinge igualmente. Tem menos a lastimar do que eu. Não soube já encontrar consolações que o meu dever, a nossa honra comum e, melhor do que tudo isso, a natureza proíbem? Olhe - ajuntou ela -, esqueceu numa gaveta três cartas da senhora de Sérizy, ei-las. O meu silêncio prova-lhe que tem em mim uma mulher cheia de indulgência e que não lhe exige os sacrifícios a que as leis a condenam; mas tenho refletido bastante para compreender que os nossos papéis não são idênticos, e que só a mulher está predestinada à desgraça. A minha virtude repousa sobre princípios determinados e fixos. Saberei ter uma vida irrepreensível, mas deixe-me viver.
O marquês, aturdido pela lógica que as mulheres sabem estudar à luz do amor, ficou subjugado pela espécie de dignidade que lhes é natural em tais crises. A repulsão instintiva que Júlia manifestava por tudo o que magoava seu amor e os votos do seu coração é uma das mais belas coisas da mulher e provém talvez de uma virtude natural que nem as leis nem a civilização jamais conseguirão destruir.