A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 69 / 205

Embora lorde Grenville tivesse ficado vivamente contrariado por não achar Júlia só, pareceu calmo e frio. Mas, para aquelas duas mulheres iniciadas nos mistérios do seu amor, seu modo, o som da sua voz, a expressão do seu olhar tinham um pouco dessa força atribuída ao peixe elétrico. A marquesa e a senhora de Wimphen ficaram como que entorpecidas pela viva comunicação de uma dor horrível. O som da voz de lorde Grenville fazia palpitar tão cruelmente a senhora d’Aiglemont que esta não ousava responder-lhe, com medo de lhe revelar a extensão do seu poder sobre ela; lorde Grenville não ousava fitar Júlia. De sorte que a senhora de Wimphen teve de fazer as honras de uma conversação sem interesse; lançando-lhe um olhar de profundo reconhecimento, Júlia agradeceu-lhe o auxílio que prestava. Então os dois amantes impuseram silêncio aos seus sentimentos e tiveram de se manter nos limites prescritos pelo dever e pelas conveniências. Daí a pouco, anunciaram o senhor de Wimphen; vendo-o entrar, as duas amigas trocaram um olhar e compreenderam, sem se falar, as novas dificuldades da situação. Era impossível pôr o senhor de Wimphen ao corrente daquele drama, e Luísa não podia apresentar razões plausíveis ao marido, pedindo-lhe para ficar em casa da sua amiga. Quando a senhora de Wimphen punha a capa, Júlia, fingindo ajudá-la, disse-lhe em voz baixa:

- Terei coragem. Se veio publicamente à minha casa, que posso recear? Mas sem você no primeiro momento, vendo-o tão mudado, teria caído a seus pés.

- Então, Artur, por que não me obedeceu? - perguntou a senhora d’Aiglemont com voz trêmula, voltando a sentar-se num pequeno sofá, no qual lorde Grenville não ousou tomar lugar.

- Não pude resistir por mais tempo ao prazer de ouvir a sua voz, de estar junto de você.





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